sergiostorch

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12 years ago @ Viomundo - O que voc&e... - Bernardo Kucinski e a ... · 3 replies · +1 points

Finalmente, olhando agora nos olhos do Coletivo da Vila Vudu:

Quero crer que o uso da expressão "cães judeus colonos" tenha sido por descuido ou inexperiência no trato de assunto tão delicado em que não admito a desqualificação feita por alguns ao usarem o termo "vitimização". Ela existe, mas não anula uma história real de milênios em que judeus foram perseguidos e discriminados. Aí o olhar do jornalista, preocupado com a comunicação imediata, costuma falhar, e é porisso que existem, além dos jornais e blogs, também os livros, os filmes e os museus. Porém, o jornalista deve respeitar a História, e conter a sua arrogância ao fazer algum julgamento. São milênios, que fazem que o povo judeu seja não o povo eleito, mas sim um povo responsável para com a humanidade por integrar essa memória singular dessa perspectiva histórica que culminou no Holocausto, às memórias de outros povos, como os armênios, os cambojanos, os russos, os somalis, os tutsis, os ciganos, os paraguaios (que alguns dos heróis que aprendemos na escola a reverenciar mutilou, massacrando 4/5 de sua população de gênero masculino), e, claro, os palestinos, os líbios, os sírios. Mas também povos para os quais ninguém está olhando, como os tibetanos que, estes sim, estão sofrendo uma limpeza étnica promovida pela China. Trazer a memória dessa história judaica para fortalecer o grito de "Nunca Mais" é um dever dos judeus para com a humanidade, e disso muitos judeus ainda não têm consciência.

Quero crer que tenham compreendido e respeitado as minhas observações. Quero crer que possam reconhecer o erro e seguir adiante fortalecidos pelo aprendizado. Quero crer que possa continuar vendo vocês aqui no Viomundo, para benefício meu e de todos os leitores. Quero crer que possamos vir a estar nas mesmas trincheiras nas questões do Oriente Médio, defendendo a criação do Estado Palestino, e defendendo a legitimidade também do Estado de Israel. Quero crer que poderei vê-los também numa outra trincheira: a do combate ao antissemitismo, à islamofobia, à homofobia, tratados no seu conjunto como deformações graves da opinião pública do que chamamos de esquerda.

Creio que tenha respondido de forma completa e clara a todas as questões que aqui foram colocadas, e fico grato ao Beto_W, pois sem o que ele já tinha escrito eu teria que ser muito mais prolixo do que estou sendo. Agradeço especialmente ao Azenha e à sua equipe por ter proporcionado essa oportunidade, que certamente será referência na blogosfera quando este assunto vier novamente à tona.

Não vou desaparecer. Leio sempre os artigos do blog, mas não participava das discussões. Em todo caso, para quem quiser me encontrar, ofereço meu blog http://www.sergiostorch.com, a minha coluna "Outro Israel é Possível", no jornal "Outras Palavras" - e deixo meu rastro todos os dias no Facebook, onde vocês podem me encontrar em qualquer ponto da minha trajetória. Quero fazer muitos amigos aqui.

Ah, faltou dizer: a entrevista com o meu companheiro Bernardo Kucinski já foi feita ontem, e creio que o Azenha já possa publicá-la. Me dou a liberdade de usar uma de suas frases: "considero que nem o sionismo nem o socialismo são aventuras encerradas". Como ele, eu sou sionista, e não considero o sionismo realizado enquanto Israel não for parceiro e amigo de um Estado Palestino democrático, ambos olhando para o futuro, pois o passado não tem conserto.

Um abraço a todos
Sérgio Storch

12 years ago @ Viomundo - O que voc&e... - Bernardo Kucinski e a ... · 5 replies · +2 points

continuação - 3a parte

Bem, agora volto ao ponto 1: a aberração que encontrei na tradução, e QUERO DEIXAR CLARO QUE NÃO ESTOU ACUSANDO O TRADUTOR DE ANTISSEMITISMO, POIS ACHO QUE ELE O FEZ POR INEXPERIÊNCIA.

a) ao contrário do que alguns aventaram, não vejo problema de antissemitismo com a quantidade de vezes que a palavra "judeu" foi citada no artigo. Vejo, sim, de qualidade jornalística, pois ao inserir repetidamente o termo "judeu" ao lado de colonos tantas vezes, o texto ficou desnecessariamente carregado. Tiraram o brilho do texto do Ury Avnery. Faltou copidescagem. Mas isso é desimportante, pois a qualidade da informação é o que mais importa. Alguma diretriz do Azenha com padrões de qualidade poderia resolver isso. Tenho certeza de que melhorará. Deixemos de lado.

b) também não vejo nenhum problema com "colonos judeus". São judeus mesmo, não é mentira, nem ofensa a ninguém. E, na minha comunidade judaica, sou um dos que combatem o histerismo daqueles que vêem antissemitismo em tudo que seja negativo em relação a Israel. Ao contrário, trago para a minha comunidade informações para combater a histeria e o medo.

c) AGORA SIM, saliento e reforço o que já tinha dito num comentário: "colonos judeus cães" é uma outra história, e aí, meu caro Pedro, estou no teu terreno: a análise de discurso. A expressão tem duas partes: "colonos judeus" e "judeus cães". A segunda é extremamente desrespeitosa com os sentimentos de um grupo humano que, como qualquer outro, tem o direito de ser respeitado. Só não concordam com esse direito aqueles que, como alguns poucos que apareceram aqui, consideram os judeus não-humanos, e sim como uma casta de alienígenas que conspira para a dominação do mundo. Essa gente existe e é perigosa, pois de vez em quando aparece um psicopata como aquele norueguês que matou a sangue frio 90 dos melhores jovens de seu país. Essa gente é perigosa como a gente que hoje adere á islamofobia nos países centrais, fenômeno hoje muito mais grave que o antissemitismo. "Judeus cães", ou "cães judeus", onde quer que apareça, é uma expressão que me faz todas as luzes vermelhas piscarem, porque me lembra das lojas e botecos na Alemanha nazista em que cartazes diziam não ser permitida a entrada de judeus e de cães. Da mesma forma que a Ku Klux Klan fazia no sul dos Estados Unidos com negros e cães, e que, pela semelhança de situações, fez que muitos, muitos, muitos judeus fossem ativistas pelos direitos civis da população negra norteamericana. Como vários aqui gostam de usar fotos para embasar seus argumentos contra Israel, me dou a liberdade de ilustrar o que acabei de dizer com essas fotos do rabino Abraham Heschel, talvez o mais importante do século 20, ao lado de Martin Luther King Jr., numa das marchas pelos direitos civis em 1965: http://www.dartmouth.edu/~religion/faculty/heschel-photos.html

Caro Pedro, aí talvez tenhamos que entrar em terrenos mais profundos da tua área, o que não farei aqui, e sim num debate público que esta discussão me mostrou ser necessário, para o qual traremos autoridades em linguística e em jornalismo. Se tiver interesse, me mande seu email e te convidaremos. Convidaremos especialmente o caro Azenha, pelo qual eu e meu grupo temos muita admiração.

Sobre a importância da qualidade jornalística para o respeito à imagem de pessoas e grupos sociais, quero dizer que vejo na boa imprensa a responsabilidade de aprofundar, mostrar contradições, mostrar a diversidade e os matizes em qualquer questão. No caso específico da opinião pública sobre os judeus e o judaísmo, essa diversidade e matizes são necessários. Falo como um dos milhares de judeus de nossa comunidade no Brasil, ao dizer que, como judeu, como ativista político brasileiro, como socialista e como ser humano, me oponho da mesma forma ao antissemitismo, à islamofobia, à homofobia e ao desrespeito aos direitos humanos de qualquer indivíduo e de qualquer grupo. Me pauto sim, por preceitos da Torá e do Talmud, que vejo como tesouros da minha tradição, embora seja agnóstico. Mas me pauto acima de tudo por uma conquista mais recente da humanidade, que é a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Este é, para mim, o único livro que considero realmente sagrado.

(finalizo no próximo comentário)

12 years ago @ Viomundo - O que voc&e... - Bernardo Kucinski e a ... · 0 replies · +1 points

(continuação)

3. sobre os judeus e o judaísmo em geral: Torá, Talmud etc. O Beto_W fez muito melhor do que eu seria capaz de fazer. Em apenas um ponto a minha opinião é outra. Você diz: "Eu não vejo anti-semitismo em chamá-los de colonos judeus, o que eu sinto é vergonha de ter de reconhecer que eles pertencem ao mesmo povo e professam a mesma fé que eu.". Minha posição: também não vejo antissemitismo nessa frase. Mas eu NÃO sinto vergonha de tê-los pertencendo ao nosso povo, e isso é fundamental em toda a discussão. Todos os povos têm pessoas dos mais variados tipos, comportamentos e atitudes. Eu não me envergonho do fato do Sérgio Paranhos Fleury ou do coronel Ustra, torturadores da ditadura, serem brasileiros, portanto tampouco me envergonho de ter esses colonos judeus violentos no povo judeu. O povo judeu é como qualquer outro, nem melhor, nem pior. Mais antigo que a maioria, sim. A história determinou que fosse, talvez ao lado dos chineses e indianos, que mantivesse a continuidade por milhares de anos. De resto, temos de tudo: psicopatas, sociopatas, criminosos e fanáticos, da mesma forma como temos bons pais, bons amigos e pessoas dedicadas ao bem comum e a um mundo melhor para todos. Todos os povos têm de tudo isso. Minha atitude em relação aos colonos judeus nos assentamentos é: primeiro, são gente como nós; segundo, se cometem crimes, devem ser julgados e condenados (sim, a justiça israelense falha, como falha também a brasileira e a de qualquer outro país, e porisso sou favorável, publicamente, ao Tribunal Russell para a Palestina. Tenho uma amiga israelense que faz parte desse Tribunal, que se reunirá na África do Sul no final do ano). Terceiro: tendo dito que não me envergonho desses colonos, eu digo mais: não fico apenas no sentimento. Eu os combato, em redes sociais globais que têm membros em Israel lutando pelos direitos humanos (o Beto_W mencionou, por exemplo, o B´Tselem, uma organização de direitos humanos formada por israelenses e palestinos; um ex-diretor está aqui conosco no Brasil e pode fazer uma palestra sobre isso). Quarto: eu apóio os colonos judeus que buscam integração com os palestinos ao seu redor. Pode ser surpreendente, mas isso existe. Da mesma forma como, no primeiro massacre deste conflito, em 1929, em que uma turba matou 60 judeus em Hebron, e outros 500 foram salvos por famílias árabes, hoje nos territórios ocupados existem judeus que são colonos e salvam palestinos de serem injustiçados. Há de tudo.

4. Sobre atributos pessoais meus (covardia, hipocrisia, sionista bonzinho e outros qualificativos), eu me abstenho de comentar. Faz parte da variedade de níveis de respeito que existem em qualquer discussão virtual. PORÉM, NESTE PONTO há algo a adicionar. CONSIDERO PAPEL DO JORNALISTA O ESTABELECIMENTO DOS LIMITES E PARÂMETROS PARA HOSPEDAR EM SEU TETO E ASSOCIAR O SEU NOME os tipos de participação que julga compatíveis com a sua imagem. E, nesse aspecto, o jornalismo está aprendendo e evoluindo. ACHO QUE O AZENHA INOVOU, no tratamento dado a este caso, e vejo isso como um passo que expande o repertório de toda a blogosfera dos jornalistas brasileiros.

(continua no próximo)

12 years ago @ Viomundo - O que voc&e... - Bernardo Kucinski e a ... · 0 replies · +3 points

Caros, minhas obrigações de trabalho e minha forma de atuação nas redes sociais não permitiram responder em tempo real às várias perguntas que me foram feitas. Peço que me desculpem, pois tenho que responder em bloco, e ficarei talvez prolixo. Mas, reconhecendo o valor das palavras do Cronópio, me sinto na obrigação de responder a tudo.

Cronópio disse: "embora não ache que "cordialidade" seja exatamente um bom elogio. Não se trata de fazer uma mesura ou um gesto de gentileza ensaiada, entende? Acho que é preciso ponderação e lucidez, quer dizer: posicionar-se de maneira clara, mas refletir sobre os argumentos do seu interlocutor, levá-los em consideração. Caso contrário, a discussão não avança e, no pior dos casos, descamba para a violência verbal."

Não serei cordial com todos. Não sou um "judeu bonzinho". Prefiro ser visto como um combatente.

Vi 4 tipos de comentários ou citações que requerem respostas específicas.

1. sobre o que é que há de errado na tradução do artigo do Ury Avnery. Não há muita coisa errada, mas há UMA coisa MUITO errada e, ao responder, estou olhando nos olhos do Pedro Germano Leal, profissional da área, e do próprio Azenha. Talvez não com tanta cordialidade quanto espero que venhamos a ter, mas com profundo respeito.

2. sobre o conflito Israel-Palestina. Não responderei, porque nada tenho a agregar ao que já foi dito, com admirável clareza e consistência, pelo Beto_W, que, aliás, quero ter o prazer de conhecer pessoalmente. Sem nunca termos nos visto, fiquei impressionado com a coincidência de posições entre eu e ele. Beto, vamos bater um papo? Vou ler, reler e recomendar que muitos amigos leiam, toda a coleção dos seus comentários: http://intensedebate.com/people/Beto_W

(continua no próximo)