Pedro Burgos

Pedro Burgos

108p

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10 years ago @ Gizmodo Brasil - Conecte-se ao que impo... · 0 replies · +1 points

(dias depois...)

Tem no iTunes:
https://itunes.apple.com/br/book/conecte-se-ao-que-importa/id808843696?mt=11

=)

10 years ago @ Gizmodo Brasil - Conecte-se ao que impo... · 2 replies · +1 points

Ninguém vai te prender se você baixar uma obra que você já tem acesso. Nem aqui nem em qualquer lugar do mundo. Desde que a Suprema Corte americana decidiu que gravar em Betamax não era crime, a "pirataria doméstica para consumo próprio de obras com acesso prévio" não é vista como crime. Sabe aquele disclaimer em sites de emuladores "só baixe se você tiver a fita"? Então, é isso.

De novo: vamos discutir a pirataria sobre fatos concretos, não sobre suposições. O meu problema com a pirataria não é quem assina a TV a cabo e baixa um programa, ou quem usa o torrent porque tem preguiça de ripar um CD, mas é sobre a ideia de que não há perdedores. Ou que se há, é só a indústria monopolista parasita do mal. Um artista que vende uma faixa por 1 dólar no iTunes ganha provavelmente 10 centavos. É injusto? Certamente. Mas o artista que deixa o clipe lá no Youtube ganha 0.007 centavo. E o que deixa só no Pirate Bay, zero. Esse modelo não é sustentável, e não dá estímulos o suficiente para não só o músico, mas toda a cadeia produtiva em volta.

Qual é a forma alternativa de cobrança pro cinema? E o meu temor é justamente porque os "outros trabalhos" estão sumindo, oras. Veja lá na Europa como tá. As revoluções anteriores extinguiram vagas na Agricultura e Indústria, mas sobraram os serviços. E muitos deles serão extintos em um prazo relativamente curto. Como eu falei pra outro cara aqui: há 1,5 milhão de atendentes de telemarketing no Brasil, 500 mil motoboys no Estado de São Paulo, quase 20 mil cobradores só no município de SP, dezenas de milhares de frenteistas. O que eles vão fazer quando a tecnologia tirar o emprego deles? Todos apontam como saída justamente a tal "economia criativa". Mas a economia criativa só será possível se alguém pagar pelo trabalho dessas pessoas. Se a pirataria não for vista como problema, então teremos que pensar numa alternativa ao capitalismo urgentemente.

Abraços,

10 years ago @ Gizmodo Brasil - Conecte-se ao que impo... · 0 replies · +1 points

Sobre o Lobão, é óbvio que há problemas com o modelo de remuneração/contratos/transparência das gravadoras. Mas, ainda assim, o saldo é positivo para uma enorme parte dos artistas. Veja o meu caso: eu poderia ganhar 25% de royalties com meus eBooks lançando pela minha editora ou 70% se lançasse diretamente pelo iTunes ou Kindle. Tenho absoluta certeza que o meu livro é significativamente melhor, chegará a mais gente (e potencialmente ganharei mais dinheiro) por causa do trabalho da editora, por causa do trabalho de um monte de gente que passa pelas revisoras ao capista e a ideia de chamar um ilustrador italiano.

Se você seguir a narrativa (aparentemente já sedimentada e inabalável na sua mente) que os intermediários da indústria do entretenimento são tão malignos assim, por que há tantos fazendo o que eu fiz, mesmo depois de ler um bocado sobre? Somos burros? É óbvio que há um valor nas gravadoras e nos estúdios - que, diga-se, não são monopolistas há muitos anos, por causa da internet.

E se você acha que "artistas" e pessoas que fazem um trabalho que pode ser 100% reproduzido por um computador são coisas iguais, eu não tenho muito como avançar muito na discussão. De que área de exatas você é? Não precisamos relativizar ao extremo. Eu não estou dizendo que pessoas são melhores que outras por causa das suas funções, mas que algumas funções se extinguem pelo avanço tecnológico - nos jornais havia uma série de empregos (o "linotipista", por exemplo) que não existem mais.

E obrigado por provar meu ponto ao trazer justamente os links das pessoas que mais defendem a pirataria, como a Tatiana de Mello Dias, ex-Link/Estadão. Para se ter uma ideia, ela é contra o rdio e a favor do Grooveshark, justamente porque não pagam um centavo para a "indústria" (ao artista também, mas isso parece ser detalhe). Como eu disse e vou repetir pelos próximos anos, as notícias que dão suporte à historinha de que a indústria cultural é do mal, pirataria é do bem abundam na nossa mídia. O link do MeioBit é outro exemplo que nem importa se a história seja verdadeira ou não (no caso, não era) http://www.techdirt.com/articles/20120524/16265119070/no-riaa-is-not-asking-72-trillion-limewire-bad-reporters-bad.shtml . O que importa é que ela segue a narrativa da RIAA do capeta.

Direitos autorais e patentes geram ene coisas boas e algumas coisas ruins. Assim como outros direitos fundamentais: a liberdade de imprensa permite manter os poderosos em xeque, assim como permite calúnia e difamação. Os abusos devem ser coibidos e a legislação aprimorada para puní-los, mas o princípio deve se manter. Assim como no caso do direito à propriedade intelectual. Eu tenho absoluta certeza que não teríamos o aparato tecnológico à nossa disposição hoje não fosse o incentivo econômico das patentes. Isso não quer dizer que eu apoie processos bizarros da Apple ou da Microsoft, mas, de novo, temos que pensar em princípios e não em abusos.

Mas se você acha que o "saldo" é questionável para a humanidade, que um direito individual se resume à maneira com que "parasitas monopolistas" se aproveitaram, aí eu diria para você estudar mais sobre o assunto. Acho que essa é uma discussão interessante se tiver fatos em cima, não suposições e histórias (a distinção com H e E não é necessária mais, aliás) baseadas em um preconceito comum.

10 years ago @ Gizmodo Brasil - Conecte-se ao que impo... · 6 replies · +1 points

Sugiro alguns outros livros (fora o outro pedaço do meu, logo depois desse, que expande a discussão), se você se interessa pelo outro lado (do artista) sobre a discussão da pirataria. Como eu falei com outro cara, eu tinha EXATAMENTE a mesma visão que você parece ter. Você pode caçar textos meus aqui no Gizmodo em 2008, ou a entrevista com o Chris Anderson, que escreveu "Free - o Futuro é grátis" em 2007, ou com Lawrence Lessig, o cara que era inventor do Creative Commons, em 2005 pra Superinteressante. Eu estou ciente que o modelo de hoje é bastante imperfeito, que o intermediário ganha bastante e que a indústria já está mais no século 21.

E o modelo que eu estou defendendo não é "falido". Aliás, que modelo você acha que eu estou defendendo? A minha regra é razoavelmente simples: é preciso pagar para as pessoas que produzem obras artísticas e intelectuais que enriquecem nossa vida - tanto como pagamos por roupas e comida para além da nossa "necessidade" - e precisamos respeitar a maneira com que o artista decide comercializar o seu esforço. Se ele quer distribuir de graça e ganhar em shows, ou instituir o "pague quanto quiser", ou lançar por um grande estúdio, não importa. Devemos respeitar o desejo DELE. É só isso. Não entendo como pagar por trabalho pode ser defender uma posição anacrônica.

De novo: artistas sempre vão existir. Mas eu não estou falando só da música, que, ok, pode ter uma fonte de renda para além da "música gravada", os shows. E porque o custo de produção é baixo. Mas pense em cinema: se ninguém pagar, não vai existir mais cinema - ou nos conformamos, como fazemos no Brasil, em deixar a conta toda para a Petrobras e a Lei de Incentivo à Cultura. Se todo mundo no mundo usasse gatoNet e torrent, não existiria Breaking Bad. Se ninguém pagar por jornalismo, sempre imaginando que a publicidade vai cobrir os custos, teremos menos jornais profissionais, desses que de fato vão atrás das denúncias e cobrem o fato no local ou gastam meses estudando um assunto.

Se não pagarmos por produção intelectual e artística, ainda vão rolar blogs de notícias, "cineastas de Youtube" e músicos que conseguem produzir um disco no computador. Mas a qualidade - ou ao menos o potencial - do trabalho e a quantidade de pessoas envolvida nisso na nossa economia certamente será menor. E eu acho triste quando você acha que isso é inexorável. Não me parece ser um futuro desejável. A tecnologia vai extinguir vários trabalhos repetitivos, braçais. Não seria bom se esses desempregados pudessem ir para a indústria criativa ganhar seu sustento? Essa história de que "os artistas sempre farão arte mesmo quando não for possível ganhar um centavo" infere que as pessoas ganharão os centavos com outras coisas, pra comer, morar em algum lugar, etc. Que coisas serão essas?

E, bom, se você quiser MESMO ler para um pouco além da narrativa favorita da mídia e dos "alternativos", sugiro alguns outros livros:

Digital Disconnect: How Capitalism is Turning the Internet Against Democracy
Who Owns the Future
To Save Everything, Click Here: The Folly of Technological Solutionism
Freeloading: How Our Insatiable Hunger for Free Content Starves Creativity
Free Ride: How Digital Parasites are Destroying the Culture Business, and How the Culture Business Can Fight Back

Acredite, novamente: eu tive por muito tempo a mesma visão que a sua. Mas eu passei os últimos anos estudando mais profundamente o assunto e tive algumas das minhas crenças abaladas. E, bom, se não fosse o trabalho jornalístico e de autor de livro remunerado, eu não teria feito toda essa pesquisa. Acho que todo mundo ganha.

Abraços,

10 years ago @ Gizmodo Brasil - Conecte-se ao que impo... · 0 replies · +1 points

Eu também conheço uma lista imensa de artistas geniais que morreram miseráveis. Há muita gente genial em qualquer campo morreu miserável. Agora, músicos que chegaram a fazer muito sucesso nos últimos 40 anos, e que morreram na pior? Provavelmente.

E você trazer o Lobão à baila é curioso. Porque é mais outro exemplo do que eu falo, de que os exemplos pró-pirataria da mídia são desproporcionalmente mais bem divulgados que os que contradizem a tese. Quando ele lançou o disco em banca, saiu em todo lugar. Mas pouca gente deu muitos ouvidos quando ele desistiu de lançar independente e fez o Acústico, né? Nessa entrevista com a Rolling Stone, por exemplo, ele diz: http://rollingstone.uol.com.br/edicao/8/lobao-macho-alfa

""Em 2005, lancei Canções Dentro da Noite Escura, que levou quatro anos para ser feito, mas também foi um fracasso. Ninguém ouviu. Um mês e meio de banca e não chegou a 20 mil cópias. Eu faço letra, música, arranjo - isso tudo demanda muita energia. Percebi que não podia mais sair em banca. A minha revista [OutraCoisa] não me comporta mais", dá prosseguimento à história. Tudo o que fiz na música independente foi por puro egoísmo. Se ajudei a terceiros, e até ajudei, foi por circunstância e sobra"

Antes do século XX, ganhar dinheiro com jornalismo era uma excepcionalidade, ganhar dinheiro sendo um bom cozinheiro era uma excepcionalidade, ganhar dinheiro sendo um matemático ou economista era uma excepcionalidade... Então, não sei qual é o sentido dessa digressão histórica. Sim, pela maior parte da humanidade artista não foi muito bem remunerado, a não ser quando encontrava mecenas. Mas na maior parte da humanidade também desrespeitamos direitos de mulheres, demos privilégios absurdos à nobreza, etc.

Acho que você poderia ler um pouco mais sobre a história do direito autoral. De maneira bem resumida, aqui: http://joaoademar.wordpress.com/historia-do-direito-autoral/ É verdade que quando ele surgiu no início do século 18, era para distribuir quem tinha direito de cópia. Mas depois, tanto nos textos da Constituição americana em 1776 e na Revolução Francesa, o direito autoral foi concebido para proteger o indivíduo e incentivar mais criações intelectuais e artísticas. Sempre. É um direito que está lá na Declaração Universal dos Direitos Humanos (que tem vários direitos que só viraram direitos no século 20).

Sempre existiram artistas e sempre existirão, eu não discuto isso. Assim como sempre existiu comida, sempre vai existir, mas só muito recentemente (em termos de humanidade) nos acostumamos à ideia de que é interessante "pagar para comer algo diferente". A comparação com ascensorista é imperfeita porque o ascensorista era literalmente um pedaço da tecnologia elevador. Assim como a palavra "computador" designava uma pessoa ou um grupo de pessoas que computavam dados. O mundo não fica pior quando não precisamos mais de ascensoristas. Não vamos deixar de "consumir" elevadores. Mas se houver um número menor de artistas, o impacto é maior.

E acho que nas suas considerações, fica claro todo o problema da nossa discussão sobre pirataria: parece que é uma disputa entre o direito de acesso à cultura versus MPAA, RIAA e coisas assim. E isso se deve, sim, em grande parte, ao esforço dessa indústria em se apegar a modelos antigos, lucro exorbitante e de criminalizar coisas que não deveriam ser criminalizadas. Emprestar um CD ou gravar uma fita para um amigo é algo bastante diferente de atacar o Megaupload - na minha e na concepção de diversos juristas.

10 years ago @ Gizmodo Brasil - Conecte-se ao que impo... · 0 replies · +1 points

Sim, eu nasci há 33 anos, peguei a hiperinflação. Acho complicado os rumos dessa conversa, porque, no limite, pode ser que nunca "sobre" dinheiro pra ninguém. Depende do que você considera o que é sobrar. Como eu expliquei pra outras pessoas, essa é a introdução da parte sobre pirataria. Nas páginas seguintes a essa no livro eu explico as vantagens e desvantagens dos atuais modelos de financiamento e explico mais detalhadamente o que está efetivamente em jogo.

Acho que há informação gratuita o suficiente na internet hoje. Eu escrevi este livro há poucos meses. Não acho que a minha posição fosse tão defensável há, não sei, quatro anos. Há vários programas legais e completos no Youtube, sites como este, portais, Wikipédia, livros gratuitos, uma série de coisas que você pode fazer sem pagar. Então, eu acho que uma criança hoje não precisa necessariamente de algo pirata. Assim como eu não preciso das séries que eu vejo, piratas ou não.

Eu defendo em basicamente tudo que as pessoas tenham acesso gratuito ou no máximo muito barato às necessidades básicas. Educação, saúde, comida, acesso à cultura. Mas, da mesma forma, é preciso para o avanço tecnológico, científico e artístico de todos esses campos tenham uma camada paga. Deve ser garantido que ninguém morra de fome, e a prefeitura faz bem em colocar bons self-services de 1 real. Mas também sou a favor do DOM, do Alex Atala - porque lá gera trabalho também.

Então, acho que uma enorme parte da cultura pode ser gratuita, e o acesso à internet já providencia isso, de maneira legal. Acho que o governo pode ajudar a bancar o acesso à rede para todo mundo, inclusive. Isto posto, aí vemos uma diferença: acho que em tudo na vida, o seu direito (no caso, do acesso à cultura) tem um limite quando ele esbarra no direito do outro. E a noção de que não existe direito autoral ou de propriedade intelectual, que não deve ser respeitado, não apenas tira dinheiro do artista, mas tira a possibilidade de a pessoa da favela vislumbrar ganhar dinheiro com isso um dia. Acho que isso é o mais perigoso. Acho que vamos viver um desemprego em massa provocado pela tecnologia. Há 500 mil motoboys só em São Paulo, 1,4 milhão de atendentes de telemarketing. Eles não serão mais necessários em breve. O que eles vão fazer da vida? Eles poderiam começar como técnicos de luz em uma produtora de vídeo e subirem até diretores de fotografia e, depois, diretores (exemplo real de um amigo), Mas a partir do momento que a sociedade acredita que é ok não pagar para o trabalho desses caras (o filme que ele faz), qual é a perspectiva?

Você coloca exemplos extremos que eu não seria contra. No caso de alguém projetar na favela, acho difícil algum autor ser contra. Inclusive várias produtoras fornecem cópias para esse tipo de projeção. Quando eu digo lá no texto que "por ora, vou tratar pirataria como isto", é porque vou falar mais adiante da questão com nuance. Não é possível dizer que é "errado" alguém projetar um filme pirata para a favela. Assim como podemos dizer que não é "errado" um cara roubar uma galinha do vizinho porque não há outra maneira de alimentar a família. Mas, ao mesmo tempo, podemos concordar que roubar é errado e (eu) dizer que pirataria em princípio também é. O importante, para mim, é o norte da discussão.

E você disse, logo no início, que "Se a indústria demitiu funcionários por conta da pirataria, certamente ela contratou outros pra atender a demanda de música digital. " E isso absolutamente não é verdade. Bastante pelo contrário.

Então, por mais contraintuitivo, acho que o respeito ao direito autoral diminui a desigualdade, no médio prazo. Eu quero que mais pessoas sejam empregadas produzindo coisas que alimentam o cérebro das outras. Jornalistas vão sendo demitidos a rodo porque as pessoas se acostumaram a ler tudo de graça. Fotógrafos, idem. Acho que há discussões interessantes aí (temos que voltar muitas décadas na "Obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica", mas acho que podemos ter mais pés na realidade pra debater isso. E não falar de coisas hipotéticas, de uma sociedade fora do capitalismo, porque é o que vai ter pra nossa geração e pra de nossos filhos. A gente precisa se arrumar neste modelo, por ora.

Abraço,

10 years ago @ Gizmodo Brasil - Conecte-se ao que impo... · 0 replies · +1 points

1. Exatamente o quê? Não entendi seu ponto. Eu falei que o artista PEQUENO era justamente o que é mais prejudicado pela pirataria. Não em números absolutos. Mas porque 1 milhão a menos pra quem ganha 6 milhões não é nada. 10 mil a menos pra quem almejava ganhar 20 mil é a diferença entre largar o emprego e se dedicar à música ou continuar fazendo o que tá fazendo. E, bom, pergunte ao Radiohead e outros o que eles acham desse experimento de "pague quanto quiser": http://www.theverge.com/2013/3/4/4054634/musics-pay-what-you-want-pioneers-sour-on-giving-away-songs

2. Então, eles nasceram na periferia, como grandes bandas dos anos 60, pré-internet, nasceram na periferia. Eu morava em Brasília no meio dos anos 90 e já ouvia Racionais. Não é possível provar qualquer relação entre pirataria e o sucesso deles. E é possível defender, inclusive, que a alta pirataria associada ao rap faz com que menos pessoas se dediquem integralmente à profissão.

E o que ficou claro pra você está tendo uma visão absolutamente distorcida do que eu venho falando. Absolutamente. Eu não falei em momento algum que é prejuízo para os artistas vender diretamente para o público. Pelo contrário. Eu acho bom, acho ótimo, mas não funciona para todo mundo e acho difícil ser sustentável. Não temos grandes exemplos. O meu ponto principal é que deve ser respeitado o desejo do artista. Se ele quer tirar o sustento dando o disco de graça, ou através de discos vendidos por gravadoras do mal, o que for. É preciso respeitar o desejo dele. Ele é um trabalhador.

E, veja, eu tinha EXATAMENTE a mesma visão que você tem. Você pode caçar textos meus aqui no Gizmodo em 2008, ou a entrevista com o Chris Anderson, que escreveu "Free - o Futuro é grátis" em 2007, ou com Lawrence Lessig, o cara que era inventor do Creative Commons, em 2005 pra Superinteressante. Eu estou ciente que o modelo de hoje é bastante imperfeito, que o intermediário ganha bastante. Mas por que ainda há tanta gente lançando por gravadoras e escritores por editoras? Todos são burros? Eu tenho estudado esse assunto há muitos anos, cara. Entrevistei muita gente, li muitos livros e estudos sobre, e acho que é fácil falar "a minha opinião é diferente da sua e você não vai mudar porque é publicidade ruim". A minha opinião tem bastante base em dados, referências. Você trabalhou vendendo CDs, eu trabalhei em uma grande rádio e vi o jabá rolando. Daí pra defender a pirataria há uma grande distância. Acho que o grosso do "ajuste", da diminuição do lucro, já rolou. Como eu falei, o preço de tudo no Brasil triplicou nos últimos 15 anos. Os produtos culturais baixaram de preço.

E pra deixar claro pela oitava vez: o que eu estou interessado é que OS ARTISTAS continuem ganhando dinheiro. E creio, por tudo que já li sobre e os artistas que conheço, que venda de discos em shows não é o suficiente para que eles se dediquem 100% a isso. Pense no volume que a pessoa tem de vender de discos, ou um artista, se quiser distribuir o livro de graça ou a 5 reais? E isso sem falar de outras áreas, como jornalistas. É insustentável para a classe artística. Você pensa em gravadoras, na "indústria", mas a indústria é formada por pessoas e não é só o CEO. É o engenheiro de som, o fotógrafo que ganha pra fazer uma capa (e não o amigo que faz na brodagem pro disco que só sai na internet), o músico de apoio, o roadie, um monte de gente. Eu sei que os lucros podem ser grandes, e eu acho que em TODAS as indústrias dentro desse nosso sistema o trabalhador intelectual ganha relativamente pouco.

10 years ago @ Gizmodo Brasil - Conecte-se ao que impo... · 0 replies · +1 points

Fico feliz, cara! Obrigado. =)

10 years ago @ Gizmodo Brasil - Conecte-se ao que impo... · 5 replies · +1 points

6. R$ 50 era o preço de discos importados. Aqui você tem uma ideia do preço comum no fim da década: http://www.preciolandia.com/br/heavy-metal-cds-3es/deno2.html E, de todo modo, não entendi a lógica. O fato de os CDs hoje serem significativamente mais baratos não seriam mais um argumento pra comprá-los e não baixá-los? Qual a ideia?

7. É uma questão mais profunda, sem dúvida. Mas ao baixar o pirata, você tá justamente contribuindo para a concentração de renda. Quando você baixa um disco à revelia do autor você está dando dinheiro para a sua provedora de telefonia (Carlos Slim, que controla a Claro e vários outras é o homem mais rico do mundo, lembre-se), e para gente como Kim Dotcom, ou os caras do Pirate Bay. O artista, que é classe média (Lady Gaga é a exceção da exceção) não leva um tostão. Como isso ajuda a melhorar a distribuição de renda? Me explica? De novo: as pessoas parecem pensar que é sempre "grandes indústrias do mal que batalham pelo copyright anacrônico" versus o pobre brasileirinho em busca de cultura. Quando não é isso. É o brasileirinho que paga cada vez mais dinheiro por absolutamente qualquer coisa mas não abre a mão para sustentar a classe artística.

E sobre os Satyros, acho o máximo. Mas provavelmente não é só boa vontade deles: é uma contrapartida necessária, uma vez que o grupo ganha dinheiro da Prefeitura de SP, através da Lei de Fomento. Quando você inscreve um projeto, precisa dizer que vai dar X ingressos gratuitos, ou Y sessões para escolas. É natural. E mesmo que saísse do bolso deles, ou só para divulgação, eu apoio a iniciativa. De novo: meu ponto é que o desejo do artista tem que ser respeitado. Se ele quer que o consumidor pague o quanto quiser, se ele quer distribuir de graça ou se ele quer só cópias pagas, o seu fã tem que respeitar.

E ah, já que você se interessa por teatro, uma dica cultural. Eu fui convidado justamente pelos Satyros para escrever um artigo (na verdade uma peça de monólogo) sobre a relação das pessoas com a tecnologia, que será aproveitado no projeto Ciborgue, que estreia em maio. Eles me pagaram para isso, aliás.

Abraço,

10 years ago @ Gizmodo Brasil - Conecte-se ao que impo... · 0 replies · +1 points

1. Há mais de 600 discos com o Count Basie no iTunes brasileiro, apenas um custa mais que R$ 25. No rdio (assinatura de 15 mensais, primeiro mês grátis), há 487 álbuns. Queria entender o seu conceito de "pouca coisa". E essas bandas como o Ovals, que você falou, podem fazer discos apenas por amor, porque já desencanaram de que vão conseguir vender discos. Mas as bandas que começam a fazer um pouco mais de sucesso mudam esse discurso. Pegue o Emicida, por exemplo. Todo pró-pirataria, todo mundo baixa, no primeiro disco. O segundo, só no iTunes e nas lojas. Eu não saberia dizer quem sofre "mais" com pirataria, mas eu me arriscaria a dizer a pequena banda australiana. Porque ela não vê a perspectiva de transformar a paixão em um emprego, como poderia vislumbrar anos atrás.

2. O que uma coisa tem a ver com a outra? As coisas que fazem mais sucesso também são as mais pirateadas. O meu ponto é que a notoriedade dos Racionais não tem qualquer coisa a ver com a pirataria. É incrível como usam isso para justificar qualquer coisa hoje sendo que há décadas, quando não havia pirataria, havia bandas que faziam sucesso mundial.

3. Acho que o governo venezuelano também dá acesso a TVs de maneira muito mais democrática do que o nosso sistema capitalista. Há alguns meses, o presidente achou que as lojas estavam vendendo muito caro e resolveu cortar o preço pela metade (http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/11/governo-da-venezuela-ocupa-lojas-de-cosmeticos-daka.html). Muita gente que nunca teve acesso às TVs finalmente têm uma em casa. Ah, sim, algumas fabricantes e cadeias varejistas nunca mais querem fazer negócios na Venezuela, mas acho que isso é detalhe. O importante é a democratização. O meu ponto é: se você não responder essa pergunta básica, de quem paga, você está sugerindo não menos que um outro sistema de organização da sociedade. Eu acho a ideia interessante e desafiadora, mas eu prefiro a solução mais simples: se todo mundo pagar, um preço razoável, não precisaremos mudar muita coisa.

4. Por que os grandes lançamentos são só Homem Aranha reboot 3 parte 3, Star Wars 7, Hobbit dividido em 3, e assim por diante? Porque justamente há um risco gigantesco, e eles fazem só mais do mesmo. Steven Spielberg disse que um grande flop hoje mataria um estúdio. E sobre recordes, nos EUA o ano de maior bilheteria foi 2002. Desde lá sobe e desce, mas é menor, apesar da população e renda terem crescido.

5. Interessante. Eu olho esse número de 75 milhões de assinantes de banda larga e vejo 75 milhões potenciais clientes de iTunes e Netflix, não do Piratebay. De novo: você realmente já deu uma olhada no acervo das opções legais? E, de todo modo, este tópico mostra que há uma diferença de entendimento do que é ético entre nós dois. Mesmo que seja "difícil", se existir a versão legal eu sempre vou atrás dela antes. Eu morava em Brasília, havia só duas locadoras de filmes "cult" na cidade nos anos 90. Se não tinha o filme que eu queria eu esperava outra semana. Por que não podemos esperar hoje? A tentação é grande demais? Acho que se você se colocar no lugar do outro (eu já fui músico e hoje faço parte de uma indústria falida, a do jornalismo), verá a importância de, sei lá, pagar pelo trabalho.